Saúde mental é um pilar importante para todos, mas os atletas e praticantes de esportes precisam de atenção dobrada.

Imagem: Getty Images
O estresse emocional é uma reação orgânica que, por si só, não é bom, nem mau. Esse processo fisiológico nos prepara para atuar diante de situações desafiadoras, sejam elas físicas ou emocionais.
No entanto, o que é popularmente chamado de estresse é, na verdade, o que os médicos classificam como distresse. Essa condição provoca sensações de desconforto, angústia, medo, ansiedade ou até de humor deprimido. O distresse acontece quando o estresse excede a energia física e psíquica necessária para administrar uma situação e, por isso, provoca essas sensações em nosso corpo.
Quando analisamos essas situações sob a lupa de um atleta profissional, encontramos:
o eustresse que é quando o estresse motiva a pessoa a se superar e alcançar melhores resultados
ou o distresse, que acontece quando o atleta não se sente à altura da confiança que lhe foi depositada, tem medo de falhar e fracassar, além de se sentir seu prestígio e suas oportunidades constantemente ameaçados
A maneira como cada um percebe e lida com essas pressões depende de sua personalidade, de sua história de vida, das expectativas pessoais e de seu nível de autoconhecimento e autocontrole.
Estresse emocional: causas, sinais e sintomas
O estresse emocional pode ser desencadeado por um desequilíbrio entre eustresse (positivo) e distresse (negativo). Acontece por razões internas e externas, ou seja, por cobranças e preocupações que podem partir tanto de questões da própria pessoa, quanto de terceiros; ou de situações e circunstâncias externas relacionadas a essa pessoa.
São exemplos de causas do estresse emocional: situações envolvendo resultados profissionais; finanças; problemas familiares, afetivos e de saúde; e excesso de atividades na rotina.
Os sinais e sintomas são similares aos identificados em outros adoecimentos, como: ansiedade, depressão e síndrome do pânico. De forma geral, a pessoa começa a notar alterações no sono e na capacidade de recuperação física.
Ademais, costumam estar presentes: pensamentos que parecem acelerados, irritabilidade e baixa tolerância a frustração. Sentimento de insegurança, dúvidas quanto à própria capacidade e declínio da autoestima também são sintomas característicos.
Emocional e psicológico afetados dentro e fora de campo
No mundo dos esportes de alto rendimento, praticamente tudo gira em torno da cobrança por desempenho e resultados. A busca pelos melhores passes, por jogadas e gols inesquecíveis, por superação em cada treinamento tem impactado a saúde mental dos jogadores. E, com isso, aumentado o número de casos de profissionais que desenvolvem transtornos como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.
Em grandes torneios, essa cobrança se torna ainda mais intensa. Engloba pontos e colocações, excesso de treinamento e concentração para aquele campeonato – impossibilitando, muitas vezes, o tempo de descanso e a realização de outras atividades. Combinados, esses fatores colaboram para que o atleta desencadeie estresse emocional, os quais podem evoluir para casos mais sérios de comprometimento psicológico – afetando sua vida profissional e pessoal.
Consequências do estresse emocional
Toda essa problemática pode gerar ansiedade e comprometer o desempenho, levando a resultados aquém do esperado e até a derrota nas partidas.
Um atleta de alta performance está habituado a lidar com altos níveis de exigência, tanto de si mesmo, quanto de terceiros. Mas isso não quer dizer que ele possa suportar essa carga o tempo todo. Nos momentos de distresse, sua capacidade de engajar, manter o treino e investir na vida pessoal além do esporte pode ser impactada.
O estresse emocional afeta o desempenho físico e cognitivo: o corpo e a mente não respondem às demandas com a mesma agilidade. A tomada de decisão pode ser prejudicada por dúvidas excessivas, e a irritabilidade ou apatia podem prejudicar a interação social e os relacionamentos próximos.
Prevenção do estresse emocional
No caso dos esportes profissionais, os atletas têm uma imagem a zelar e querem manter-se sempre em destaque. Ainda, existe a pressão pela performance, derivada dos altos níveis de investimento (pessoal e financeiro) e a expectativa dos clubes e das torcidas.
Muitas vezes, o atleta é posto em pedestal, visto como herói, instigado a superar suas marcas o tempo todo e a qualquer preço. No entanto, esses atletas também precisam ter a consciência de que a vida real é feita de ganhos e perdas, de vitórias e derrotas. Essas expectativas devem ser consideradas, mas não de maneira que afetem suas vidas além do campo.
Para evitar e trabalhar essas situações é fundamental investir no autoconhecimento. Isso pode ser feito ao aprender a sentir e identificar suas emoções, e descobrir os gatilhos para o seu estresse emocional. Com isso, é possível aprender e passar a utilizar técnicas de concentração, descompressão e relaxamento.
Também é muito importante investir em interesses além do esporte. Isso possibilita que o atleta mantenha um equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal, engajando com outras áreas da vida ao ampliar conhecimentos e reconhecer seu valor como pessoa.
Psicólogo especializado
Além de médico do esporte e equipe multidisciplinar, os clubes profissionais costumam contar com psicólogo específico para ajudar os atletas a lidar com questões que podem ser prejudiciais à saúde mental do profissional. Caso o atleta não tenha esse suporte, é recomendável buscar auxílio de um psicólogo especializado.
Revisão por: Dr. Elton Yoji Kanomata, médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein; e Dra. Ana Lucia Martins, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Albert Einstein; Blog do Einsten.
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